quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Littera dura


Recebi um cartão postal. Era de Pasárgada, Cândida tem um ótimo senso de humor, vive a caçoar-me. Logo de cara percebi que era alguma brincadeira, quem manda cartão postal nos dias de hoje? Ninguém...
Este fato aumentou ainda mais a saudade que eu sinto pela Cândida, apesar de ser uma traça entendia mais dos meandros literários do que reles indivíduos pouco dados aos segredos da littera dura. É, meu caro, quão duro é escrever, ainda mais nesta terrinha, neste planeta, nesta galáxia... Mas o que poderei fazer? Os viventes de Kepler não vieram me abduzir... Devem ser inteligentes como nós, pobres energúmenos mergulhados em certezas.
Penso em Cândida todo santo dia, apesar de que o dia não é santo... O tempo... este só pode ser do coisa ruim! Mas voltando à Cândida, só ela que me dava o prazer de um texto ruminado, deglutido, degustado... Ela era tão dedicada à literatura.  Por que não estás a farfalhar meus escritos na gaveta, Cândida querida? Não sei ... Só sei que uma pobre croniquetinha que eu escrevi causou uma comoção, como é bom ser odiado, me dá um tesão... Uma poetitica disse que não escrevo crônicas, que não é real o que escrevo. Escrevo o quê então, templo sapiensal? Ai meu Deus, minha vida perdeu o sentido e não quero mais viver, vou me afogar num copo duplo de coca-cola light, pois quero ir pra terra dos pés juntos em boa forma, sou um galã à Don Juan, quem sabe, talvez na paz eterna arrumo umas amantes mais inteligente do que esta alface...
Toda esta comoção por causa de meu textículo... Ao invés de ela desvendá-lo carinhosamente, absorvendo-o com os seus lábios babados de más intenções... A pobrecita me vem com verossimilhança... disse que eu não escrevo sobre a verdade, mas que burra, ela acredita que há algo real no mundo... Ela deve ser uma destas que perseguem escritores empunhando sombrinhas futuca marido bradando furiosamente: “é real ou não?”. Cuidado, colegas, quando a virem, fujam todos, ela é portadora da gripe asnoína tipo um.
A pobre diaba crê que a crônica é tão real quanto o espelho dela. Ela não sabe que as fronteiras entre o real e o fictício são tão frágeis como um copo de cristal se espatifando no chão, e que o peido que ela solta pode causar um tsunami no outro lado do mundo, mas isso é uma teoria, nós é que vivemos no caos.
Agora vou para minha Pasárgada, meu Éden, vou-me para os braços de Brigite, a minha boneca inflável... Acabei de adquiri-la, em seus áureos braços esquecerei destes ignorant asinus, da Cândida... Com Brigite serei feliz. 



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O representante


– Abaixo aquela coisa... Como é mesmo o nome? Ah! Lembrei... A obressão!
– Não! Meu filho, é opressão! Retruca a professora com a sua cara de choro.
– É... É essa parada mesmo! Chega... Chega de sopa de canjiquinha, queremos sorvete ou coca-cola com bolo!
Somente a professora levantou e aplaudiu, pois estava cansada de tomar sopa. Entretanto, acalmou seus aplausos, ela não podia ter partido. Ela não poderia traumatizar os pequenos.
– Muito bem, Carlos, pode sentar. Agora peço que o candidato da chapa dois venha aqui na frente discursar.
Era o Wesley, vinha com o dedo no nariz, limpando o salão, como dizem. Ao chegar na frente da turma, retira o dedo e limpa a meleca na camisa do uniforme e começa a gritar.
 – Vou acabar com todos deveres de casa. Queremos um basta a essa tortura, queremos brincar! A gente não quer só dever, a gente quer diversão e fazer arte... Por isso vote chapa dois e eu paro de roubar seus lanches no recreio!
Toda turma aplaudia efusivamente, não pelo seu discurso, mas por poderem, finalmente, comerem sossegados. Depois que tudo se acalmou, a professora chamou o próximo candidato, o Afonsinho.
– Faço minhas as palavras dos candidatos anteriores...
– Não, querido, você tem que explicar o porquê de seus colegas votarem em você como o representante de turma, advertiu a professora.
– Mas, por quê? Na televisão eles repetem as mesmas coisas, pensei que podia mudar!
– É, mas... Bem, faça as suas propostas e diga o que você tem que os outros candidatos não têm.
–Ah! bem, vote consciente, vote chapa três, pois eu sou... Sou ficha limpa!
– Ficha limpa?! Grita toda a turma em um som uníssono como se acabassem de acordar.
– É, oras... Vocês não veem televisão não? Sou um candidato limpo e cheirosinho. É só olhar no livro de advertências! Está em branco! Ao contrário da oposição que é corrida... Sou ficha limpa!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Robalo é a Solução


Candidato a vereador vem pra colocar todo mundo pra dançar... Na saúde, na educação, é assim mermo... Robalo é a solução! Candidato 00171, aquele que não promete e também num faiz.
Sô contra os projeto, ontem mermo projetei uma viajem pras praias de Belo Horizonte, mas choveu, sorte a minha, pois fiquei sabeno que no estado de Belo Horizonte num tem mar... Como é que é? B.H. é capital de Minas, ah quem liga pra essas coisas de ortografia? Num é ortografia? Como é que é então? Hum é cartografia... Isso num é coisa de cartomante não? A gente aprendemo com os erro errado da vida... O que eu tava falano? Ah, dos projeto... Isso tudo é lenda! Ninguém projeta nada não! Na verdade verdadeira num sei nem o que é projeto.
Como vereador vô fazer muita coisa boa pras gentes... Mas, é claro, pras gente lá de casa. Tô deveno um Mercedes pro meu filhote, num consegui comprá no mandato anterior, pois tava pagano a nossa humilde residência de quatro milhão...
Prometo, e isso hei de cumprir, que num vô levar dinheiro na cueca e nem nas meia... A maleta já foi comprada e vai resolver esse pobrema, cabe muita grana nela, comprei a mais maior de grande!
O que vou fazer quando ganhar? Bom, vou viajar para Miami pra desestressar, campanha eleitora enervosa a gente, cara, to na maior pilha. E quando voltar vou negociar uns caixa dois aí, uns aumento salarial... Além da minha comissão das licitações superfaturadas... O meu negócio é faturar e se você num toma conta, um vem e te faz tomar sem vaselina. Então é isso, vote consciente, vote no candidato 00171, pois Robalo é a solução!!  

domingo, 29 de abril de 2012

I like brasileños


Um homem velho e, portanto, respeitoso levanta a sua cartola com o intuito de depositar um vintém. Seu fraque velho e a falta de dinheiro mantêm a decadência de sua figura. Sua cabeleira grisalha e sua barbicha de bode não têm a imponência de antigamente. Outrora gostava de uma carnificina, no Vietnã, no Iraque... Ainda que não tenha abandonado completamente...
Agora, por ironia do destino, ou por tostões furados, vende camisas – com os dizeres: I love America! – em frente ao New York Stock Exchange, a NYSE, a deusa do capital, que mora em Wall Street. Depois que abriram as porteiras para o new rich latino americano, nunca o sonho americano custou tão barato, míseros cinco “dólar”, além de acolher duas pessoas dentro dele, é feito mother heart: sempre cabe mais uns...
– Comprem! Imperctível! Por apenas um dólar a mais ustedes podem levar esta linda “bolígrafa” nas cores dos states...
Nosotros gostar much dos brasileños. The pueblo compram muchas camisas de lembrança de my country. I like brasileños! Eles não olhar nem a etiqueta para ver que a camisa é made in Taiwan. É... hoy é tudo as ... as... plataformas de exportação. Ah! Eu não ter mais as meat em barril, só pólvora mesmo... No ser mais carnicero, ser mesmo armeiro, eu vender muitas armas pro world (a economia de my country girar em torno da war). Ahora a deusa NYSE não estar muito de nuestro lado, assim que world gira, sempre pendendo para um side... E o outro tomando sabe-se lá no lugar que os brasileiños chamam onde saem as shit, excrements (eu no saber o nome em portuguese, há anos que yo no treinava!).
Vendi muita arminha e canhãozinho para os kids, mas não é os cowboys do old oeste americano, são para as criancinhas brincar de arrancar a cabeça dos soldadinhos de chumbo (precisamos de ideologias!). Ahora tem que ir ganhar my breakfast, my pão! Adorar os brasilenõs, antes gostava mucho de bater neles, mas hoy eles são vips! Life is funny!

quinta-feira, 29 de março de 2012

O Bonde das loiras


Encontraram-se como de costume, os sete. Lembraram-se do filme Onze homens e um segredo, entretanto, no caso deles, eram seis segredos e um homem. É evidente que tantos segredos assim não são fáceis de se ocultar ao mesmo tempo, ainda mais quando este segredo é loiro e anda de salto alto a realizar compras por aí. Ele se despediu das comparsas e foi esperar no carro que estava na frente do condomínio de luxo.
Seu pseudônimo é Clyde e espera ansioso em seu ford  (um novo modelo, pois aquele que o verdadeiro, o Barrow, usava, no início do século XX, no meio oeste americano, não é mais fabricado e está muito difícil de conseguir. Logo, o ford do Clyde falso, tem os bigodes aparados ...). Enquanto esperava, ensaiava em seu retovisor caras diferentes, como se fossem máscaras, pensando que estava em um filme de Hollywood.
Nesse interim, o tempo fecha. Que merda!
No dia seguinte, Clyde esperava vestido de jaqueta marrom, estava receioso, pois logo hoje a Marylin não poderia comparecer devido à chuva de baba que seu cão tinha jogado em seu cabelo,  estragando, dessa forma, o seu penteado empapado de laquê. Após duas horas de espera, seu smarthphone vibra, Bonnie avisava por torpedo que a sua chapinha tinha ido para cucuia, fora a unha de esmalte suiço da Malévola que tinha quebrado, e que o furto de hoje tinha naufragado. Clyde fica furioso, da última vez tinha sido o salto da Susan que quebrou, agora a unha, valha-me Deus! Assim não se pode trabalhar... Ainda mais agora que tinha ensaiado em seu retovisor todo seu repertório de caras adquiridas pelos filmes de Hollywood.
Clyde vai para sua casa de praia junto com Bonnie, seu amor bandido, lá ele pensa que é o George Clooney, já que ele é o único homem com seus seis segredos. Levanta as sobrancelhas tenta fazer caras e bocas, lhe falta alguma coisa, o que será?  Ah! Já sei, um porquinho amarrado na coleira.
Como tudo não dura para sempre, eles são descobertos quando curtiam um final de semana na sua casa de praia. Clyde, não abandonando sua visão cinematográfica dos fatos, fala que resistirão até que seus pulmões lhes faltem, logo não iria se entregar facilmente. Enquanto pensava num fim triunfante, estilo velho oeste, Bonnie se entrega sem que ele perceba. Agora os dois vão viver um sonho de liberdade...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Uncle Sam contra o Irã


Uncle Sam chamou todos os seus comparsas para a reunião no Pontógono (antigamente era conhecido como Pentágono, mas como eles nunca saem do mesmo ponto...). Uncle Sam estava vestido como de costume, cartola e fraque nas cores do seu country. Ao seu redor se encontravam seus assessores da guerra: mister Killer e Hylárya Píton.
– Olá, lady and gentleman, convoquei os senhores para elaborar nossas estratégias para the war.
Ao ouvir essa palavra, mister Killer sentiu arrepios em sua espinha. Sir Killer também é conhecido popularmente como diabo, entretanto adotou uma nova aparência... Agora ele é de um tipo musculoso, mas sem chifres para evitar as piadinhas, como: lá vai o corno, o chifrudo! Sabe... A imagem estava demasiadamente gasta, ninguém mais se assusta com um tipo vermelho e de chifres rodando por aí, vão pensar que é carnaval fora de época e vão perguntar onde comprou o abadá e cantarão em coro as vogais de um axé fora de moda. Já o loiro musculoso de olhos azuis pode até passar por mocinho da história, ele já estava cansado de ser o malfeitor.
Men, vamos fazer a guerra contra o Irã, Síria... Vamos chupar o petróleo daquele Country como se bebe coca-cola no canudinho.
Hylárya Píton ficou vermelha e questionou como eles fariam isso. Uncle Sam respondeu que ele sempre tinha bombas escondidas na cartola (tão escondidas que até hoje procuram-nas no Iraque...). No mais, eles tinham El Diablo Ramadi, conhecido como a lenda (lenda às vezes lembra coisas boas, outras, desgraças), nas horas vagas trabalhava como o exterminador do futuro das pessoas. Para dominar o mundo eles iriam utilizar de todas as técnicas, como a utilização dos Drones (avião não tripulado) e alguns viciados em joguinhos maléficos. Uncle Sam falava entusiasmado todo o seu plano diabólico, com as verdinhas pingando no nariz (não o dólar, mas as secreções nasais advindas de uma gripe cachorrina na economia mundial).
Uncle Sam, Hylárya Píton e Mister Killer comemoram com a abertura de uma cidra (a recessão chegou até na casa white...). Logo estariam mijando em alguns cadáveres por aí, além, é claro, de sugar todo o petróleo que puder. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

El Diablo Ramadi


      Meu name ser Mister Killer, em portuguesa ser senhor matador, mas no é pegador de mulher, eu não gostar de pular na pelada, adorar mesmo bacamarte, pistola e espingardas grandes e chupar picolé itu a escorrer o leite no canto da boca. My name é my orgulho, representa meu country, que quer matar people em busca de money.

      Eu ser american man, ex-soldada Americana, gostar muito de matar, no gostar de amar. Amar é o sentir fraco dos men. Os fortes não amar, matar uns aos outros é ser forte. Eu ser mucho forte, ser o que os brasilenhos chama de burro... No, parrudo. Eu gostar de dar porrada no mundo ao mando de uncle Sam, tenho cartola nas cores de my mother North America. Eu também colecionar bibelôs nas cores de my country.

      Eu adorar o meu fazer na mission em Iraque. Só matar duzentas e vinte cinco pessoas, pois a vida americana valer mais do que da mulher com arma, no... alma distorcida. Lá, no Iraque, me chamar de El diablo Ramadi, por dizer que eu cheirar a sulphur, como é mesmo o nome em portuguesa? É... É essa mesmo... Enxofre. Mas eu não cheirar a enxofre, já passei até o dedo na rodela e não senti. É maldade dos homem, eu ser muito boazinho, nunca deixei uma bala no pente...

     Eu vou lançar livra... No, é libro, também não. Vai lançar my book a contar minha tática de guelra (isso não é fish?), ou melhor, minha catarse em matar as pessoa. My libro ser sucesso de vendas em todo mundo. Eu adorar ler Crepúsculo por eu ser inteligente, mas não conseguir escrever igual, pois eu não brilhar feito purpurina purple quando estar fazendo topless na praia. Meu livra vai ser bestseller, é muito boa igual Crepúsculo. Também eu vai ser ator, vou estrear como o Exterminador 6, pois o Arnold estar muito pelancudo, só servir agora para ser governador.

     ¡Hasta la vista!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

TUDO É POSSÍVEL?

     Dá para ficar assustadiço com as coisas que os homens inventam.... Leitor, não se assuste não! Inventando, eu digo por criar ilusões, não é uma arma nova no mercado não! Apesar, é claro, de terem inventado a bala que acerta sua trajetória no ar a mais de dois quilômetros de distância, mas isso é outra história.... Alguns senhores, por exemplo, afirmam que Deus abriu um centro de estética, logo você poderá comer aquela picanha gordurosa que é só rezar que perde seus quilinhos. Outro senhor diz para as senhoras que não é pecado chupar um pirulito de vez em quando, só não pode se melar com o melzinho (mas como? Abocanhou o canudo e agora vai ter que babar?).

     Imagine a cena. Deus com a sua barba longa e sedosa administrando a clínica de estética “corpo celeste”. A equipe médica, como dá para supor, seria composta por anjos e santos canonizados pela tradição, todos comandados pelo todo poderoso. Gabriel, Miguel e Rafael fariam a triagem dos pacientes, encaminhando-os para os santos que já têm a sua especialidade concretizada nas crenças das pessoas.

     – Miguel, encaminhe essa para o Dr. Expedito. Ela só está querendo perder dez quilos em apenas três minutos, como ele é PhD em causas impossíveis, talvez ele dê um jeitinho nela...

    – Essa daqui, Rafael, mande para o Dr. Jorge. Ele já está acostumado em enfrentar e espetar dragões mesmo.

    Rafael olha para o lado e se dá conta de um senhor que deseja erguer uma parte ínfima do seu corpo que há alguns anos anda adormecida.

    – E esse, Gabriel, o que faço com ele?

    – Ah, leve-o para o Dr. Benedito, ele sabe como erguer e fincar um mastro...

    Sigismunda negava-se a aceitar a anestesia de Adão, por que não de Eva? Não foi ela que fez o homem comer o fruto proibido e tornou-os meros mortais?

    Gabriel, vendo que Sigismunda atrapalhava a fila, que já estava maior do que a do SUS, encaminhou-a logo para atravessar o arco-íris...

    Como já existem clínicas de estéticas operando milagres nas gordurinhas indesejáveis, quem sabe algum dia nem precisemos mais ir a academia malhar para o carnaval, para a praia, ou até mesmo para ser um fisicultor, basta ir para a “Aleluia fitness” que seus músculos já saem “bombados”...

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Estante

      Queria de qualquer forma ser um vencedor. Apesar dos pesares acreditava que iria ser alguém importante. Quem sabe um dia o seu nome não seja dado a alguma rua, avenida, ou até mesmo um bairro? Sonhava com os seus dias de glória, mas, apesar de sonhar, era honesto, não iria passar a perna em ninguém. Por isso que seu nome não manchará de esquecimento nenhuma rua, só lhe resta um fim trágico, como a vida que é dramática e portuguesa (não sei para quê tantas besteiras).

     Como todo dia acordou cedo, às quatro horas, a fim de trabalhar nos seus escritos. Riscou o fósforo para acender a vela que roubou do cruzeiro do cemitério, no Brasil todo dia é dia das almas, vela nunca iria lhe faltar. Tinham lhe cortado a luz, assim como a água. Gás ele não precisava, já que não tinha nada para cozer. Quando a sua fome apertava, ele procurava comida nos sacos de lixo, restos de comida estragada que seus vizinhos jogavam fora. Estes, por sua vez, passaram a não jogar mais os restos no lixo, queriam que ele definhasse que morresse com falência múltipla de órgãos, seria ótimo para as suas vidinhas vazias.

     Mesmo com o seu toco de vela e a fome apertando-lhe as entranhas foi escrever. Gastou três folhas numa estúpida estória de amor. Rasgou as folhas. Lembrou que seu último lançamento fora um fracasso. O que será que acontecia? Ele era um misto de Kafka, Machado e Rosa (como é possível?!). Ninguém o lê. Ficou ali quase em estado de putrefação.

    Saiu pelas ruas. Todos queriam-lhe em suas estantes. Como em revolta os vizinhos avançaram em cima de seu corpo magrelo, feito bestas insaciáveis para lerem as linhas de seu corpo, arrancam-lhe os membros, em um sinal de regozijo religioso.

    Miss Fiesguer pegou a parte que lhe cabia. Ávida pegou o membro desfalecido em suas mãos, chupou feito pirulito (lembrem-se que não é pecado, diz o senhor Pastor) e levou para sua casa, parecia que tinha vida própria, pois intumesceu, e túrgido a cara senhora enfiou o nabo entre as suas pernas enquanto tocava a nona sinfonia de Beethoven em seu piano alemão, estremecendo de gozo e satisfação.

   No final Sigismunda segurava a cabeça (parte alta do corpo, é claro, Miss Fiesguer nunca abrirá mão, ou os lábios, para deixar a cabeça grotesca solta por aí, pois sonhava com algo duro em sua vida há tempos) e perguntava-se com o seu bafo de barata:

   – Despersonalizou-se? Arrancando-lhe um beijo de seus beiços frigidos pela frieza da morte.

   Neste momento observava-se um sorriso maroto nos lábios de seu crânio, afinal morrera sorrindo, não sabia que era tão amado.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fugere realitas

      Olá cambada, a vida anda ingrata, mas continuo a manter-me aqui frente a ti, pois o teu desprezo é que me mantém vivo... Após uma semana exaustiva, sempre à procura do inalcançável, do inaudito (em outras palavras: procurando trabalho), estou tentando fugir da realidade, ou aceitar a merda que é a vida. Isso é claro, após cruzar alguns municípios, numa pequena viagem de três horas e meia, cheguei à conclusão de que estou inapto para viver neste mundo (Keplerianos me resgatem, HELP me. Atualmente acho que até os extraterrestres falam inglês. Afinal, é a língua do imperialismo!). Por isso estou pensando em formas de fugir da realidade, por ver que o mundo é cão (desculpem-me os seres caninos).

      Uma forma de fugir da realidade provável e indicada para senhoras recalcadas é assistir novelas, açúcar romântico de maldades esdrúxulas dos vilões e bondade exacerbada da mocinha estúpida, fins redondos, personagens redondos, deixando a própria senhora redonda. No fim tudo acaba bem para todos os personagens, um engano para as cabeças vazias que pensam que a vida é uma novela (êta passividade louca!). Após ver que tua vida é vazia devido ao excesso de novelas (romantismo demais às vezes mata os neurônios), se quiser gastar um pouco de dinheiro, vá ao psicólogo, deite no divã e conte a tua infância, mas no fim tu terás que pôr a mãe no meio, o que dá uma encrenca desgraçada...

     - Fale-me de sua infância?

     - Ah! Eu comia muito doce!

      - O doce era uma forma de você desviar os sentimentos reprimidos de ódio que sentia pelo seu pai, quando ele ia realizar um coito com a tua mãe... Meu caro, isso é apenas um complexo de Édipo. Passe na minha secretária gostosa e pague a hora, somente duzentos reais, que eu vou comê-la quando sair daqui com o dinheiro de um otário (no final tudo é culpa de Édipo, também quem mandou comer a mãe! E o pior, é tu que pagas o pato).

      Uma boa forma de fugir da realidade é a musica, mas atualmente ela está muito universitária (antigamente costumava ser Phd). Vá entender o porquê de as pessoas escutarem Teló’s e outros dejetos fecais que adentram no cenário musical (se é delícia, como ela pode matar? Já viu veneno ser gostoso? Mata só se for de tédio). Salvem-nos, Beatles amados! Afaste-nos de “Créu” e de Michel Teló, agora e sempre. Amém.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O VENCEDOR

      Odiava os perdedores... Desde criança se habituou com o jeitinho verde-amarelo de atingir seus objetivos nefastos, chegou até a subornar seus pais, já que descobriu que ambos pulavam a cerca com os vizinhos. Odiava os nerds e os cults, pois estes eram sempre perdedores (num país de energúmenos, tentar ser diferente é sinal de sandice). Roubava sempre. No futebol quebrava a perna de um se fosse necessário, quiçá o pescoço. Nas provas bimestrais colava de algum nerd, ameaçando-o, pois, se não desse cola, iria quebrá-lo na saída. Até nas relações amorosas, carnais, arrumava um jeito para se dar bem. Inventava fortunas, mansões e carros de luxo que só existiam na ficção de suas cantadas. Após o coito o vencedor afoito ia embora do motel, deixando para o encargo da moça a diária caríssima, o valoroso custo de sessenta reais (isso que dá ela ficar assistindo novela o dia inteiro... Só respira açúcares).

     No vestibular escolheu um curso que correspondia com a sua índole inabalável. Iria ser um bacharel em direito (claro que não seria um licenciado, assim a crônica se chamaria o perdedor, nem direito ao trabalho ele teria). Aprovou-se. Formou-se. Viu que a advocacia não lhe renderia muitos dividendos devido à condição social do país e à concorrência.

     Virou empresário. Sua empresa fartou-se devido aos viciados em jogatinas. Seus negócios giravam em torno de caça-níqueis e jogo do bicho. Tanto dinheiro tinha que ser limpo de alguma forma, foi por isso que o vencedor adentrou no ramo da construção civil. Além de lavar o dinheiro adquirido pelos seus negócios, ele ganhou mais ainda, já que adentrou na política e lucrava com concessões de obras superfaturadas. Com o dinheiro que dava para construir cinco escolas ele construía duas e embolsava o resto. Com os amigos ria alto e falava que sua fazenda de “laranjas” lhe rendia muito dinheiro, afinal o povo é que se dane.

    Candidatou-se mais tarde nas eleições a deputado federal. Venceu (não esqueça que ele é o vencedor). Mamou até onde pôde e não pôde nas tetas do estado, esta gata gorda e leitosa. Viveu como um rei absolutista em palacetes e carros de luxo. Entretanto, como a morte vence qualquer um, até mesmo os vencedores, chegou a sua vez, foi diagnosticado um tumor maligno em suas entranhas (ele que já era um para a sociedade, agora tinha um dentro dele). Contratou os melhores médicos que existiam, o que só prolongou o seu sofrimento. No dia de sua morte, o vencedor estendeu a sua mão magra e pálida cheia de fios e mangueiras e, mesmo entubado, sussurrou: Fui vencido. Caiu a mão e morreu. Foi sepultado como herói (nada mais comum, bandidos no final são sempre heróis) com o choro incontrolado da turba (são sempre esquecidos e perdem suas lágrimas com porcarias).