Odiava os perdedores... Desde criança se habituou com o jeitinho verde-amarelo de atingir seus objetivos nefastos, chegou até a subornar seus pais, já que descobriu que ambos pulavam a cerca com os vizinhos. Odiava os nerds e os cults, pois estes eram sempre perdedores (num país de energúmenos, tentar ser diferente é sinal de sandice). Roubava sempre. No futebol quebrava a perna de um se fosse necessário, quiçá o pescoço. Nas provas bimestrais colava de algum nerd, ameaçando-o, pois, se não desse cola, iria quebrá-lo na saída. Até nas relações amorosas, carnais, arrumava um jeito para se dar bem. Inventava fortunas, mansões e carros de luxo que só existiam na ficção de suas cantadas. Após o coito o vencedor afoito ia embora do motel, deixando para o encargo da moça a diária caríssima, o valoroso custo de sessenta reais (isso que dá ela ficar assistindo novela o dia inteiro... Só respira açúcares).
No vestibular escolheu um curso que correspondia com a sua índole inabalável. Iria ser um bacharel em direito (claro que não seria um licenciado, assim a crônica se chamaria o perdedor, nem direito ao trabalho ele teria). Aprovou-se. Formou-se. Viu que a advocacia não lhe renderia muitos dividendos devido à condição social do país e à concorrência.
Virou empresário. Sua empresa fartou-se devido aos viciados em jogatinas. Seus negócios giravam em torno de caça-níqueis e jogo do bicho. Tanto dinheiro tinha que ser limpo de alguma forma, foi por isso que o vencedor adentrou no ramo da construção civil. Além de lavar o dinheiro adquirido pelos seus negócios, ele ganhou mais ainda, já que adentrou na política e lucrava com concessões de obras superfaturadas. Com o dinheiro que dava para construir cinco escolas ele construía duas e embolsava o resto. Com os amigos ria alto e falava que sua fazenda de “laranjas” lhe rendia muito dinheiro, afinal o povo é que se dane.
Candidatou-se mais tarde nas eleições a deputado federal. Venceu (não esqueça que ele é o vencedor). Mamou até onde pôde e não pôde nas tetas do estado, esta gata gorda e leitosa. Viveu como um rei absolutista em palacetes e carros de luxo. Entretanto, como a morte vence qualquer um, até mesmo os vencedores, chegou a sua vez, foi diagnosticado um tumor maligno em suas entranhas (ele que já era um para a sociedade, agora tinha um dentro dele). Contratou os melhores médicos que existiam, o que só prolongou o seu sofrimento. No dia de sua morte, o vencedor estendeu a sua mão magra e pálida cheia de fios e mangueiras e, mesmo entubado, sussurrou: Fui vencido. Caiu a mão e morreu. Foi sepultado como herói (nada mais comum, bandidos no final são sempre heróis) com o choro incontrolado da turba (são sempre esquecidos e perdem suas lágrimas com porcarias).
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