Souberam que ele
estaria lá, naquele banheiro público de shopping. Com seus cabelos alisados, e
com a sua infeliz boca da qual só sai merda, no sentido literal da palavra. Depois
de tudo que ele ousara falar em público, não poderia passar impune.
– Mayday, mayday! 171
falando!
– Na escuta, 171, aqui
é o Ponta Grossa.
– O digníssimo se
encontra no shopping, caminha com passos apressados, veste terno, e está com os
cabelos empapados de laquê, ele fez a chapinha hoje! Está se dirigindo para o
banheiro.
– Copiado, 171. Solta
pra geral. Sinal verde para a operação “Ideias no seu lugar”. Cuidado pra não
causar alarde. Ele pode se evadir do local.
– Ok, Ponta Grossa!
Copiado e operando.
A notícia rolou solta
nos walk talks dos celulares. Quando o digníssimo entrou no banheiro, quatro
armários tamanho família o encurralaram em um canto.
– Seu fanfarrão de uma
figa...
– O que-que que-e é?
Ponta Grossa, que tinha
dois metros e meio só de músculo, pegou o digníssimo pelo colarinho e o
suspendeu como se fosse um boneco desnutrido de Olinda.
– Como é? Tu não vai
falar as mesmas coisas que disse lá não? Ou será que vou ter que te obrigar.
– Fa-falar o que-que?
– Cuidado, Ponta
Grossa, o digníssimo vai te molhar...
– Como?
– O digníssimo acaba de
mijar nas calças.
Ponta Grossa solta o
digníssimo como um saco de batatas. Dá-lhe dois tabefes na cabeça.
– Só porque é político
e presidente da Comissão dos Direitos Humanos, tu não pode sair falando assim
da gente, seu mijão. Maldição patriarcal... parece que é doido.
– Vo-vocês têm que
entender...
– Tem que entender uma
ova. Ponta Grossa, vamos dar umas clareadas nas ideias dele.
O grupo não precisou
ouvir mais nada. Pegaram as pernas do digníssimo e saíram puxando-o em direção
ao vaso sanitário. Ele cravou as unhas no chão do banheiro e, por onde passava,
deixava as marcas de suas unhas. Implorava pelo amor de Deus que o deixassem ir
embora. Não contaria nada, mas de nada adiantou as suas súplicas.
Enquanto um vigiava a
porta, dois seguravam suas pernas, mergulhando-o no vaso sanitário, e outro
acionava o botão de descarga. Desentopem o vaso com sucesso e se evadem do
local.
Sozinho no banheiro, o
digníssimo, aos prantos, passa as mãos pelos seus cabelos, inconsolável.
Balança a cabeça, não acreditando no que acontecera, era o maior desastre de
sua vida.
– Ai, meu Deus,
estragou a minha chapinha!