Sento na cama e vejo
TV. Acho que o mundo acabou faz tempo, desde o dia em que abaixei meu traseiro
na frente disso, a TV levou o meu tempo, a minha vida... Agora por este
aparelho desgraçado fico sabendo do fim! Serei dizimado como os dinossauros.
Apenas um cometa pra levar tudo em apenas um segundo. Não bastava viver à
espera de um desastre por causa da bomba nuclear, da de nêutron, ainda tinha
que vir um cometa. Olha, cometa, não se faz de besta e entra pra greta, não sou
anacoreta, a meditar preces, a suplicar salvações...
O que farei quando vir
o fim despertar pela janela? Será que amei o suficiente e quando o fim chegar
rirei sarcasticamente, ácido? Não! Acho que não...
Pego o cigarro olhando
o horizonte, sorrio lembrando de uma velha propaganda de cigarros que passava
nas madrugadas de antigamente. Tenho o mesmo olhar de vencedor, igual ao do
garoto propaganda daquela marca de cigarro, que tragava a fumaça distraidamente
olhando o horizonte como se o mundo fosse seu. Ao contrário dele dou uma
tragada longa e duradoura para me despedir da vida e do mundo, nada mais é meu!
Agora não importa se morrerei de velhice ou de câncer.
Fumo um maço de
cigarros inteiro e abro um litro de cachaça, sorvo o líquido pelo gargalo, a
água-ardente desce pela goela, queimando-a. Tenho que partir degustando os
melhores aromas e paladares.
Olho pela janela e
sinto vertigem, desta altura seria fatal; penso, mas desisto. Embriagado,
ficarei dormente e anestesiado, não sentirei o meu fim. Eu não o verei, como
também não vi a vida passar com seus passos ligeiros e os pés cheios de calos.
Eu que sou sujeito às
sujeiras e calamidades contemporâneas, que me achava tão limpo, serei uma
sujeira a emporcalhar as patinhas das baratas. Sinto minha consciência distante
e pesada. Nocauteado pelo álcool caio pesadamente em minha cama. Restará o
silêncio e a nulidade da vida.
Acordo suado e rançoso,
a minha pele está curtida pelo álcool. O mundo acabou? Estou em outra vida?
Como, se a outra é igual a esta? Os mesmos barulhos, os mesmos vizinhos. No 412
a mesma transa matutina. É, o mundo não acabou, o cometa não caiu, a flor não
sumiu... A única tragédia que aconteceu neste dia treze de dezembro de dois mil
e doze foi mijar na borda do vaso sanitário, mas como não sou casado, a
tragédia vira apenas mais uma vez entre outras tantas. Acabo de urinar e me
dirijo para sala, encho um copo de cachaça, jogo um gole no chão e penso:
–
É, não tem jeito! Você vai ter que nos aturar por um bom tempo, ainda...