Recebi um cartão
postal. Era de Pasárgada, Cândida tem um ótimo senso de humor, vive a
caçoar-me. Logo de cara percebi que era alguma brincadeira, quem manda cartão
postal nos dias de hoje? Ninguém...
Este fato aumentou
ainda mais a saudade que eu sinto pela Cândida, apesar de ser uma traça
entendia mais dos meandros literários do que reles indivíduos pouco dados aos
segredos da littera dura. É, meu
caro, quão duro é escrever, ainda mais nesta terrinha, neste planeta, nesta
galáxia... Mas o que poderei fazer? Os viventes de Kepler não vieram me
abduzir... Devem ser inteligentes como nós, pobres energúmenos mergulhados em
certezas.
Penso em Cândida todo
santo dia, apesar de que o dia não é santo... O tempo... este só pode ser do
coisa ruim! Mas voltando à Cândida, só ela que me dava o prazer de um texto
ruminado, deglutido, degustado... Ela era tão dedicada à literatura. Por que não estás a farfalhar meus escritos na
gaveta, Cândida querida? Não sei ... Só sei que uma pobre croniquetinha que eu
escrevi causou uma comoção, como é bom ser odiado, me dá um tesão... Uma
poetitica disse que não escrevo crônicas, que não é real o que escrevo. Escrevo
o quê então, templo sapiensal? Ai meu Deus, minha vida perdeu o sentido e não
quero mais viver, vou me afogar num copo duplo de coca-cola light, pois quero ir pra terra dos pés
juntos em boa forma, sou um galã à Don Juan, quem sabe, talvez na paz eterna
arrumo umas amantes mais inteligente do que esta alface...
Toda esta comoção por
causa de meu textículo... Ao invés de ela desvendá-lo carinhosamente,
absorvendo-o com os seus lábios babados de más intenções... A pobrecita me vem com verossimilhança...
disse que eu não escrevo sobre a verdade, mas que burra, ela acredita que há
algo real no mundo... Ela deve ser uma destas que perseguem escritores
empunhando sombrinhas futuca marido bradando furiosamente: “é real ou não?”.
Cuidado, colegas, quando a virem, fujam todos, ela é portadora da gripe asnoína
tipo um.
A pobre diaba crê que
a crônica é tão real quanto o espelho dela. Ela não sabe que as fronteiras
entre o real e o fictício são tão frágeis como um copo de cristal se
espatifando no chão, e que o peido que ela solta pode causar um tsunami no
outro lado do mundo, mas isso é uma teoria, nós é que vivemos no caos.
Agora vou para minha
Pasárgada, meu Éden, vou-me para os braços de Brigite, a minha boneca inflável...
Acabei de adquiri-la, em seus áureos braços esquecerei destes ignorant asinus, da Cândida... Com
Brigite serei feliz.