– Abaixo aquela coisa... Como é mesmo o nome? Ah! Lembrei... A obressão!
– Não! Meu filho, é opressão! Retruca a professora com a sua cara de
choro.
– É... É essa parada mesmo! Chega... Chega de sopa de canjiquinha, queremos
sorvete ou coca-cola com bolo!
Somente a professora levantou e aplaudiu, pois estava cansada de tomar
sopa. Entretanto, acalmou seus aplausos, ela não podia ter partido. Ela não
poderia traumatizar os pequenos.
– Muito bem, Carlos, pode sentar. Agora peço que o candidato da chapa
dois venha aqui na frente discursar.
Era o Wesley, vinha com o dedo no nariz, limpando o salão, como dizem. Ao
chegar na frente da turma, retira o dedo e limpa a meleca na camisa do uniforme
e começa a gritar.
– Vou acabar com todos deveres de
casa. Queremos um basta a essa tortura, queremos brincar! A gente não quer só
dever, a gente quer diversão e fazer arte... Por isso vote chapa dois e eu paro
de roubar seus lanches no recreio!
Toda turma aplaudia efusivamente, não pelo seu discurso, mas por poderem,
finalmente, comerem sossegados. Depois que tudo se acalmou, a professora chamou
o próximo candidato, o Afonsinho.
– Faço minhas as palavras dos candidatos anteriores...
– Não, querido, você tem que explicar o porquê de seus colegas votarem em
você como o representante de turma, advertiu a professora.
– Mas, por quê? Na televisão eles repetem as mesmas coisas, pensei que
podia mudar!
– É, mas... Bem, faça as suas propostas e diga o que você tem que os
outros candidatos não têm.
–Ah! bem, vote consciente, vote chapa três, pois eu sou... Sou ficha
limpa!
– Ficha limpa?! Grita toda a turma em um som uníssono como se acabassem
de acordar.
– É, oras... Vocês não veem televisão não? Sou um candidato limpo e
cheirosinho. É só olhar no livro de advertências! Está em branco! Ao contrário
da oposição que é corrida... Sou ficha limpa!